O que eu vi dos paulistas na vigésima segunda rodada do Brasileirão
O Corinthians jogou bem dentro de sua proposta e o Palmeiras teve dificuldades para quebrar a defesa alvinegra. Já o Santos mostrou-se estagnado diante de um revigorado América.
Corinthians 0 x 0 Palmeiras
Quando faço análise sobre jogos de futebol, procuro tentar entender o que os treinadores estão buscando dentro das partidas. Porque uma coisa é o que eu gostaria de ver e como eu acho que poderia ser feito e outra - bem diferente - é o que o treinador desejaria que fosse feito e o que ele gostaria de ver em campo. Só assim é possível ser justo na análise. Do contrário, estarei cobrando coisas que o treinador nem tentou fazer ou que os jogadores nem buscaram no jogo.
Digo isso porque não me parece correto julgar mal o Corinthians por deixar o Palmeiras ter o protagonismo em Itaquera, se era justamente isso que o alvinegro queria. O que a gente pode discutir é se o elenco só permite isso, se esta é a melhor ideia e se o alvinegro vai ganhar os pontos que quer jogando desta forma. Que o plano era esse, porém, para mim não há dúvida.
Já do outro lado havia sim um apetite por esse protagonismo, desde que não culminasse, é claro, com o time se expondo em demasia para dar ao rival justamente o que ele gostaria.
De forma geral, então, entendo que os dois estavam dentro das próprias características, mesmo que se cobrasse algo diferente do Corinthians. Partindo desse princípio, considero que o primeiro tempo foi equilibrado até os 20 minutos e que o Palmeiras teve a primeira boa chance aos 22, depois de Cássio se mostrar indeciso na saída de gol em um escanteio.
Gostei de alguns momentos nos quais Veiga mexia com a marcação de Moscardo e dos zagueiros para liberar infiltrações de Artur e Rony, mas de resto foi um Palmeiras de muitos cruzamentos e tentativas de aproveitar a segunda bola e eventual posicionamento equivocado da linha defensiva corintiana. No entanto, foi muito raro isso acontecer, o que fala positivamente sobre toda a aplicação dos donos da casa nesses momentos do jogo.
Faltou, no entanto, (como de costume) a parte ofensiva para o Corinthians. Tirando a bola com Wesley e as ameaças na bola parada, o alvinegro quase não colocou o sistema defensivo do Palmeiras à prova. E ainda assim a melhor chance do primeiro tempo foi corintiana! Aos 44 minutos uma transição rápida do Corinthians teve Giuliano enfiando bola para Yuri Alberto. O centroavante aguardou o momento certo e rolou para Maycon, que talvez tenha apostado alto demais no contrapé de Weverton em vez da chapada no canto esquerdo.
Eu quero frisar esse lance porque tenho batido nessa tecla aqui: o Corinthians tem sido um time capaz de fazer muita diferença com pouquíssimos momentos de bom futebol. Esse poderia ter sido mais um destes jogos.
No segundo tempo eu vi um Corinthians tentando adiantar um pouco mais a marcação e vibrando muito a cada dividida (até de forma exagerada inclusive), o que dava fôlego à equipe para seguir anulando o Palmeiras. Chance de gol, porém, era difícil de encontrar. E para o rival também…
Inicialmente nenhuma substituição teve grande impacto na partida, mas na reta final o jogo ganhou bastante em emoção. Quando ficou com um a mais o Corinthians pareceu mais ousado nas ações, só que logo após um ataque corintiano, Endrick roubou a bola e serviu Breno Lopes, que demorou muito e que sem força alguma parou em Cássio.
Na sequência, no dez contra dez, Endrick arrancou novamente e foi a vez de Veríssimo parar o jovem na base do pontapé.
Abel falou que talvez pudesse ter colocado Endrick antes (não sei se foi irônico), mas acredito que com o jogo que o Palmeiras fez em Itaquera os esforços do atacante seriam quase inócuos. Afinal, foram 40 cruzamentos e 11 escanteios alviverdes…Esse não é o jogo para o rapaz.
Vale a reflexão nesse momento no qual o Palmeiras precisa de um substituto para Dudu e tem no banco - e sem uso - um dínamo como Endrick.
Ah! Pra mim o empate ficou de bom tamanho: uma grande chance desperdiçada para cada lado.
América 2 x 0 Santos
Começou como um jogo de transições entre dois times que queriam utilizar os espaços dados pelo outro. Jogos assim podem virar armadilhas para quem tenta jogar um pouco mais no campo de ataque (principalmente quem não sabe) e me parece que foi o caso aqui. Quando o Santos colocou muita gente para atacar no lado esquerdo do campo, o cruzamento ruim se tornou transição para o América e os erros defensivos santistas começaram a empilhar…
Alex tinha um duelo individual contra Rodrigo Varanda. O zagueiro de frente, o atacante de costas. Mesmo assim ele perdeu no alto para o atleta do Coelho. Na sequência a recuperação foi lenta e - para piorar - Fernández e Rincón demoraram para fazer a leitura do lance, o que permitiu a Felipe Azevedo ganhar a dianteira.
A leitura de Alex sobre para onde correr após o erro também foi ruim e com uma tabela rápida o América fez 1 a 0.
O Santos que sofre em quase todas as situações de uma partida de futebol teria que de novo reagir a um placar adverso. Apesar do ímpeto, quem teve as mais claras nos minutos subsequentes foi justamente o América e o Peixe só foi ter algum momento de pressão mais sustentada nos cinco minutos finais do primeiro tempo, quando Marcos Leonardo, Lucas Lima e Mendoza tiveram oportunidades para empatar.
No segundo tempo, Diego Aguirre mudou o esquema tático do Santos para um 5-3-2 com a entrada de Júnior Caiçara na vaga de Fernández. Me parece que o intuito era ajudar Alex e Basso nos duelos contra Varanda e Azevedo, mas na prática o que vimos foi mais uma descoordenação defensiva oferecendo o 2 a 0 para o Coelho.
Em uma bola girada da esquerda para a direita, Alex foi dar combate longe da área em Varanda. Matheus Henrique recebeu com liberdade, Dodô demorou a apertar e no espaço entre Basso e Joaquim, que se comportou como lateral e não como zagueiro, Juninho - livre de Jean Lucas - entrou para cabecear sozinho e ampliar.
Com a desvantagem por dois gols, Aguirre desfez o experimento dos três zagueiros e mandou Furch e Soteldo a campo. Em um 4-2-4 ( o mesmo de Turra e Hellmann ) o Santos, porém, só levou para o lado e cruzou. Exceção feita a uma finalização de Furch que Cavichioli pegou, quase nada aconteceu e o Peixe deixou claríssimas suas limitações. O América, por sua vez, mostrou-se concentrado para marcar e inteligente para sair da marcação.
Voltando ao Peixe:
Não há evolução até aqui.
Não houve com Turra e nem deixaram que houvesse.
Não há com Aguirre e é muito cedo para que haja.
Os reforços podem ajudar, mas até aqui o Santos está parado.
É preciso correções nos treinos e sequência do trabalho nos jogos. Não há solução mágica, embora os dirigentes acreditem que trazer um monte de atletas sem contrato vá salvar o clube. Não é assim que funciona.
Resumo do fim de semana: quem tem goleiro bom garante, ao menos, um pontinho, mais um motivo para o Santos entrar em desespero 🥴🥴